"Um
dia é preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir”.
Amyr
Klink
Eu conheço muitas pessoas que nunca saíram de
seu espaço, não conhecem nem mesmo a cidade onde moram, uns dizem que não tem
tempo, outros que não tem nada para conhecer.
São pessoas que não aprenderam a ver o mundo
com outros olhos.
Também, conheço muitos que sonham, com
lugares e culturas diferentes e ficam apenas no sonho, não tem coragem de partir,
tem medo e se aventurar no desconhecido, porque sair da nossa rotina às vezes é
assustador.
Mas, depois que você dá o primeiro passo,
mesmo sendo perto, no seu bairro, na sua cidade e devagarzinho vai se
aventurando mais para longe, ah....fica cada dia melhor e mais vontade dá de ir
e ir , todo dia um pouquinho mais longe.
Não sei bem quando comecei a viajar, mas
pelas fotografias que vejo, era pequena de colo.
Lembro-me menininha viajando de trem, na
época só havia trens para o interior do estado de São Paulo, viagens longas, 10
a 12 horas em vagão dormitório. Lembro-me da alegria de ficar na janela, vendo
a paisagem passar lentamente, me imaginado vivendo naqueles campos.
Lembro-me do barulho do trem que dava uma
sonolência gostosa e de vez em quando o apito, lembrando de que por ali havia uma
pequena comunidade, lembro-me do chefe de cabine que batia a porta para ver
perfurar o bilhete, do café da manhã no vagão restaurante e principalmente do
nosso dormitório, com uma cama beliche que durante o dia virava sofá, da pia ao
canto e do pequeno espaço destinado ao banheiro.
Anos depois, quando começaram as linhas
rodoviárias, íamos de ônibus com parada no posto de estrada, no meio da
madrugada para um lanche e chegávamos cedinho, a melhor parte era olhar pela
janela e ver as cidades passando, casas no meio do campo, árvores e plantações
e imaginar como era morar ali.
Depois, quando me mudei para o interior,
ainda viajava, agora para as cidades da região, para o litoral do estado de São
Paulo, Paraná e Santa Catarina, e sempre foi muito bom.
Aprendi a não ter medo do desconhecido e de
querer saber cada vez mais sobre os lugares por onde vou, de observar o ritmos
de vida diferentes do meu, de observar as cidades, as paisagens , as construções, de me colocar
nesses ambientes e sentir a vida pulsando em cada lugar, de imaginar as
historias, os causos, de saber quem são as pessoas que por ali andaram, seus
sonhos, seus medos, suas esperanças.
Casada, me mudei muitas vezes e talvez por
causa dessa minha história, sempre foi muito fácil me adaptar e viver em cada novo
lugar, não importa por onde andamos ou moramos, a essência das pessoas é sempre
a mesma, muda apenas a cultura, tradições, modo de viver e de ver a vida.
Quando saímos do nosso lugar conhecido e nos
aventuramos para mais longe, passamos a dar
muito mais valor a vida, as diferentes culturas, a respeitar aquilo que não conhecemos,
sem desmerecer o lugar em que você está.
Saia sempre e viaje se possível, ande bastante
a pé, não apenas como exercício físico, mas como exercício para a mente, aprenda
a observar, observe por outra perspectiva o novo, se imagine vivendo nesse lugar,
tire fotos, converse com as pessoas.
Você verá o quanto nossa visão do mundo muda,
passamos a entender melhor o outro e a dar mais valor ao nosso lugar e as
pessoas que estão por perto de nós.
¨ Todas
as viagens são lindas, mesmo as que fizeres nas ruas do teu bairro. O encanto
dependerá do teu estado de alma. ¨
Rui
Ribeiro Couto